Rhonda Applebaum e a empresa estão no centro de uma grande discussão a respeito da influência da companhia nos estudos e mensagens veiculadas pela ONG Global Energy Balance Network, formada por médicos e cientistas
A diretora do setor de ciência e
saúde da Coca-Cola, Rhonda Applebaum, deixou o cargo nesta terça-feira (24),
após acusações de que a empresa estaria influenciando pesquisas e campanhas
antiobesidade de uma ONG americana. A Coca-Cola, maior companhia do setor de
bebidas do globo, anunciou que Rhonda "decidiu se aposentar" e a
transição do cargo "está em andamento".
Rhonda e a
Coca-Cola estão no centro de uma grande discussão levantada nos Estados Unidos
sobre a relação da empresa com a Global Energy Balance Network (GEBN),
organização financiada pela companhia. No início de agosto, um artigo publicado
no jornal The New York Times afirmou que a Coca-Cola estaria usando
os recursos doados para orientar as pesquisas e mensagens veiculadas pela ONG
de que bebidas açucaradas (como os refrigerantes) teriam papel menor no aumento
das taxas de obesidade que a falta de exercícios físicos.
A GEBN é
formada por um time de médicos e cientistas com a missão de encontrar soluções
inovadoras para prevenir e reduzir a obesidade com base na ciência do balanço
calórico (o equilíbrio ideal entre o número de calorias ingeridas e queimadas
pelo organismo). De acordo com o artigo, o financiamento de estudos que dariam
destaque para a importância da maior quantidade de exercícios físicos no
combate da obesidade em detrimento do total de açúcar da dieta seria uma
estratégia corporativa para combater o declínio nas vendas dos refrigerantes em
todo o mundo.
Em
comunicados, a empresa e a ONG afirmaram que a Coca-Cola não tem qualquer
influência sobre estudos e campanhas da GEBN. Em setembro, a companhia publicou
em seu site uma lista de todas as organizações que recebem
fundos da Coca-Cola e o montante destinado a cada uma, reafirmando seu
compromisso com a transparência. Em 2014, a GEBN recebeu 1,5 milhão de dólares
(cerca de 5,6 milhões de reais) da companhia.
Nesta
terça-feira, contudo, a agência Associated
Press divulgou
trechos de e-mails trocados entre Rhonda Applebaum e cientistas da ONG, em que
a chefe do setor de ciência e saúde da Coca-Cola ajuda a direcionar as
pesquisas da Global Energy Balance Network.
No fim do
dia, Muhtar Kent, um dos executivos da Coca-Cola, afirmou em comunicado que o
papel da companhia em pesquisas científicas era baseado no "desejo de
identificar uma abordagem mais holística e prática, baseada nas melhores
evidências". Kent também disse que ficou claro que "não havia um
nível suficiente de transparência sobre o envolvimento da companhia com a
Global Energy Balance Network. Claramente temos mais trabalho a fazer para
refletir os valores desta ótima companhia em tudo o que fazemos."
A
confirmação da aposentadoria de Rhonda foi divulgada no mesmo dia e a Coca-Cola
afirmou que a decisão foi tomada em outubro. A chefe do departamento de ciência
e saúde é especialista em microbiologia e segurança alimentar e entrou na
Coca-Cola em 2004. Fez parte do grupo de consultores do Food and Drug
Administration (FDA), órgão americano que regula alimentos e medicamentos.
Níveis de obesidade - A discussão sobre o método ideal para combater
a obesidade e doenças crônicas como a diabetes tipo 2, ligadas à dieta, ocorrem
em um momento em que os Estados Unidos enfrentam taxas alarmantes de sobrepeso.
No país, a obesidade atinge mais um terço dos adultos (78,6 milhões) e quase um
quinto das crianças (12,7 milhões), de acordo com dados do Centro para Controle
e Prevenção de Doenças (CDC) americano.
Neste ano,
o consumo de açúcar e bebidas açucaradas se tornou um dos focos da luta contra
a obesidade. Em março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou que o
açúcar deixe de representar mais de 10% do consumo diário de um indivíduo e
sugeriu que os governos aumentem os impostos sobre alimentos ricos em açúcar, como
refrigerantes e alimentos processados.
Na última
década, no entanto, com a opção dos consumidores por alimentos mais saudáveis,
a venda de refrigerantes caiu, obrigando gigantes do setor, como a Coca-Cola e
a Pepsi, a aumentar a oferta de bebidas menos calóricas e oferecê-las em
embalagens menores.
Além de
ressaltar os métodos para o combate da obesidade, a discussão sobre a relação
entre a Coca-Cola e a GEBN também coloca em evidência a difícil relação entre
pesquisadores e órgãos financiadores de estudos. Essa ligação tem sido alvo de
alertas constantes de cientistas neste ano, em periódicos respeitados como a Science. De acordo com os
especialistas, é preciso parâmetros mais rígidos que privilegiem a qualidade de pesquisas científicas isentas, sua
reprodutibilidade e a independência dos organismos financiadores.
(Da redação)
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