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Clínicas desrespeitam lei e oferecem bronzeamento artificial em máquinas

As máquinas foram proibidas em 2009 por resolução da Anvisa, porque aumentam o risco de câncer de pele, o mais comum no Brasil.




Um alerta! Sabe aquelas câmaras de bronzeamento onde as pessoas se deitavam como se estivessem na praia pegando sol? Elas foram proibidas em 2009, porque aumentam o risco de câncer de pele, o mais comum no Brasil.
Cinco anos depois, nossos repórteres descobriram que muitas clínicas desrespeitam a lei e continuam oferecendo bronzeamento artificial nas máquinas proibidas.
Verão, mais que isso: verão em um país tropical. Sol é o que não falta. As praias são uma festa. Quem não mora no litoral, quando pode, viaja para perto do mar. E, com tudo isso, tem gente que prefere se fechar em uma cápsula em clínicas de bronzeamento artificial.
O procedimento é proibido desde 2009 por uma resolução da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
O motivo da proibição foi um estudo da Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer, ligada à Organização Mundial da Saúde. Segundo o estudo, o bronzeamento artificial aumenta em até 75% o risco de desenvolvimento de melanoma.
“É o câncer de pele mais perigoso”, diz Denise Steiner, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
As câmaras emitem raios ultravioleta do tipo "A", também conhecidos como UVA. Os raios ultravioleta "A" se aprofundam na pele. São os raios solares que atingem a superfície do Planeta Terra do nascer ao pôr do sol. Mais ou menos entre 10h e 14h, os raios ultravioleta "B" também chegam à superfície. Esses raios queimam apenas a parte mais exterior da pele. Provocam aquela ardência chata. 
Noventa por cento da luz emitida nas câmaras de bronzeamento são raios UVA. “Essa luz é um pouco traiçoeira, porque, na verdade, ela não deixaria a pele vermelha”, explica Denise Steiner.
O usuário da máquina não percebe que a pele está sendo agredida.
São Gonçalo, Rio de Janeiro. Os repórteres do Fantástico usam câmeras escondidas para comprovar: “Olha só. Vou te explicar o que é o risco da cama. Essa cama que a gente tem dá para fazer um bronze maravilhoso em dez minutos. Basta eu regular ela para 100 graus”, explica um homem.
Mas, ele também oferece sessões mais longas.
“Duas horas, normal são duas horas. A intensidade minha é 38 graus”, revela o homem.
Nossos repórteres são levados para os fundos da casa.
“Se você ficar o dia todo aí, você não vai ter uma queimadura que você vai ter no sol. Vai ficar bronzeada”, destaca o homem.
Dias depois, a equipe do Fantástico voltou ao local para pedir uma entrevista. O dono do salão não quis gravar, mas negou que tenha uma câmara de bronzeamento.
São Paulo. A repórter, mais uma vez, se mostra interessada no serviço de bronzeamento, mas diz que está com medo de que ele faça mal à saúde. A funcionária responde que ela mesma usa a máquina.
“O pessoal fala: ‘Ah! É câncer de pele, envelhecimento... É igual ao sol. Então tudo o que não tem exagero, eu acho que é tranquilo. Eu, por exemplo, só faço o bronzeamento mais para o final do ano”, diz uma mulher.
Veja como não existe padrão numa atividade clandestina. Lembra das sessões de duas horas naquela clínica do Rio?
Veja o que nos disseram em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, estado com a maior incidência de câncer do tipo melanoma no Brasil: “Dependendo da pele, começa com cinco minutos”, diz uma mulher.
E em outra clínica de São Paulo: “A gente começaria com uma sessão de 10 minutos”, explica uma mulher.
A frequência também é a gosto do freguês.
Fantástico: Qual é o recomendado?
Mulher: Quatro. Duas vezes por semana.
Outra mulher: Você pode vir para o resto da vida uma vez por semana.

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, não importa se são cinco minutos ou duas horas, em temperaturas baixas ou altas, nem o número de sessões.
“Não existe forma segura de fazer bronzeamento artificial. Toda vez que você fizer, você está sendo colocado em risco”, afirma Denise Steiner, presidente da Sociedade Brasileiras de Dermatologia.
Ivani Werneck entende de beleza. É dona de um salão em Ipanema, no Rio, e tem tempo de praia.
“Na minha época não tinha filtro solar”, conta a empresária Ivani.
Pelo contrário: o que se usava na praia eram produtos bronzeadores passados na pele.
“A gente queria era se gratinar! Não era se bronzear, era uma coisa gratinada assim, sabe?”, diz Ivani.
Quando faltava tempo, ela procurava o bronzeamento artificial. “Eu não tinha tempo de pegar sol, eu ia para um lugar de praia e eu queria chegar bronzeada”, diz.
Em 2013, Ivani descobriu um câncer de pele. “A ficha caiu na hora. A ficha de todas as coisas que eu tinha feito”, afirma Ivani.
Ela retirou o tumor do rosto e levou 20 pontos.
“As exposições cumulativas levam a formação do câncer de pele. Não só na câmara de bronzeamento, como também na exposição direta ao sol”, explica Dolival Lobão, médico do Instituto Nacional do Câncer.
Na clínica Moça Bonita, em São Paulo, quem nos atendeu não autorizou a gravação de entrevista. Disse que tem permissão da Justiça para trabalhar mas, até a exibição desta reportagem, não mostrou qualquer documento.
Para a antropóloga Mirian Goldenberg, o bronzeamento artificial é um símbolo da nossa época.
“A brasileira acredita em milagres, que rapidamente, e de forma eficiente, você vai ficar mais linda do que todas as outras. Ela acredita nisso, e por isso ela faz loucuras”, diz Mirian.
“Pelo menos uma vez por mês eu faço o bronzeamento na cama artificial”, conta a modelo Dani Sperle.
A modelo Dani Sperle desfila nas escolas de samba do Rio. “Eu acho que fica sensual. Então é melhor você fazer o bronze, que é mais rápido e a marquinha fica mais bonita”, afirma.
Os locais que oferecem o serviço podem ser advertidos, multados e até fechados.
O Fantástico voltou ao Ornei Cabeleireiros, em Novo Hamburgo.
Fantástico: Vocês oferecem o serviço aqui?
Homem: Oferecemos.
Fantástico: Bronzeamento de cama?
Homem: De cama.
Fantástico:  Mas sabe que é proibido?
Homem: Sei. Não existiu nunca uma fiscalização, o bronze sempre foi dessa forma. Até hoje ninguém veio para dizer que não pode mais.

“Essas clinicas que hoje ainda exercem a função do bronzeamento artificial, ou elas funcionam ilegalmente, são clandestinas, ou senão, elas são amparadas judicialmente por alguma decisão judicial”, explica Luciano Accioly Tesser, gerente da Anvisa.
“Quinze anos que estamos com a cama de bronzeamento, vai dar 16 anos agora em 2015”, explica uma mulher.
A responsável pelo salão Modeline, em São Paulo, disse que ainda está tentando na Justiça uma autorização para funcionar. Mas o advogado dela afirmou, por e-mail, que o serviço de bronzeamento artificial foi interrompido desde 2009.
Quando o Fantástico voltou à Isis Beauty, em São Paulo, foi informado de que a dona do salão está viajando. Uma funcionária confirmou que há uma câmara de bronzeamento no lugar, mas disse que o equipamento nunca é usado.
O Brasil é pioneiro na proibição das câmaras. E a pesquisadora americana Maritza Perez defende a nossa lei. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos publicou a estimativa de 419 mil casos anuais de câncer de pele causados por bronzeamento artificial só nos EUA. Seis mil são do tipo melanoma.
A pesquisadora Maritza Perez, da Universidade de Columbia, nos EUA, diz que muita gente não sabe o risco que está correndo e que, se um governo pode evitar mortes, tem mesmo que agir para isso.
“Há um perigo real. E está principalmente relacionado ao risco que essas pessoas têm de ter melanoma, que é um tumor extremamente grave. E você pode simplesmente morrer”, diz Denise Steiner, presidente da Sociedade Brasileiras de Dermatologia.
Fantástico: Vale a pena se arriscar por beleza?
Ivani Werneck: Não. Não.

http://g1.globo.com/fantastico
Fantástico: Edição do dia 28/12/2014
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Autor Everaldo Paixão

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