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Imagem de Eduardo Campos continua nas campanhas em Pernambuco

Ex-governador é comparado ao personagem Morto Carregando o Vivo

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Ainda vivo: a imagem do ex-governador e candidato Eduardo Campos presente no material de campanha - / Hans von Manteuffel



RECIFE — Tido como um dos personagens mais curiosos do Bumba Meu Boi, o Morto Carregando o Vivo tem sido invocado por populares para definir o excesso da utilização da imagem do ex-presidenciável Eduardo Campos (PSB) na campanha eleitoral de Pernambuco. Ele morreu no dia 13 de agosto em acidente de avião, mas tanto os candidatos majoritários quanto os proporcionais chegam à reta final usando fotografias, vídeos e todo o tipo de alusão a Campos.

Na última quinta-feira, O GLOBO contou, num trecho de 12 quilômetros entre o bairro de Dois Irmãos e Boa Viagem, 72 unidades de propaganda, das quais Campos aparecia em 60 ainda como candidato a presidente, ao lado dos que disputam mandatos de deputado, senador, ou governador. Dos políticos ligados à Frente Popular — coligação de 21 partidos liderados pelo PSB — só 12 usavam cartazes ostentando fotos de Marina Silva.

Alguns optaram pela alternância, como o candidato a deputado federal Filipe Carreras (PSB), que tem fotos ao lado de Marina e de Campos. “Por Eduardo, por Pernambuco, pelo Brasil”, diz o candidato em sua propaganda eleitoral na televisão.

No horário gratuito da última terça-feira, representantes de dez partidos ou usaram imagens ou fizeram referência a alianças com ele. Só o PV não lançou mão do recurso. E o candidato do PSB, Paulo Câmara, reforça: “Paulo É 40”, repetindo slogan usado em 2006 e 2010, quando o “E” era associado à primeira letra do nome de Eduardo Campos, na disputa pelo governo estadual.

— O que a gente vê, nas ruas, na TV, nos carros de som é mesmo o Morto Carregando o Vivo. Ou melhor, os vivos. Encaro esse exagero como um desrespeito a quem não está mais nesse plano. É uma falta de humanidade — afirma a educadora Ivana de Araújo Cavalcanti da Silva.

Walter Libânio da Silva, mestre do Boi de Mainha, do bairro popular do Ibura, localizado nos morros da Zona Sul, também repudia a estratégia:

— Já ouvi esse comentário, as pessoas dizendo que transformaram Eduardo Campos no Morto Carregando o Vivo. Não gosto da comparação, porque o personagem é uma coisa mágica, fantástica, do Bumba Meu Boi. Mas não aprovo o que vejo no mundo real. A exploração é grande, tem muito aproveitador usando a imagem dele para se promover.

Aelson Ferreira da Hora, presidente da Associação de Bois de Pernambuco (que congrega 300 grupos) e mestre do Boi Faceiro, do bairro dos Coelhos, não gosta da associação:

— O folguedo do Bumba Meu Boi tem personagens do imaginário popular, bichos, humanos e personagens fantásticos. O Morto Carregando o Vivo pertence ao mundo fantástico, e, por esse motivo, não gosto da comparação que estão fazendo com o real. Mas penso que controlar esse exagero é coisa difícil.

A historiadora e professora da Universidade Federal de Pernambuco Socorro Ferraz lembra Getúlio Vargas:

— A morte causa um impacto terrível entre os homens, para o bem ou para o mal. O ex-presidente Vargas foi escorraçado, e virou herói depois de morto.
Com atuação em campanhas eleitorais em vários estados, o marqueteiro José Nivaldo Júnior observa o uso em massa da figura de Eduardo Campos como positivo para a propaganda eleitoral do grupo político liderado pelo ex-governador:

— Todo candidato é marqueteiro, tem sentido aguçado de sobrevivência política. Eles não insistem no que não dá resultado. No caso da exploração de Eduardo Campos, estão surfando na onda da maior comoção política pós-1964. Não vejo como oportunismo, mas como uma sequência que se dá aos desejos e projetos dele.

OPOSIÇÃO CONDENA EXPLORAÇÃO

A exploração da imagem de Eduardo Campos pela Frente Popular incomoda os adversários, mesmo aqueles que tentaram surfar na onda da comoção gerada por sua morte. Logo no início da programação eleitoral gratuita, o candidato da coligação Pernambuco Vai Mais Longe, senador Armando Monteiro (PTB), chegou a dedicar todo o seu horário a Campos, de quem era aliado na campanha de 2010.

Foi impedido pela família do ex-presidenciável de usar nome, imagem ou voz de Campos, por intermédio da Justiça Eleitoral. Hoje, ele reclama da estratégia do PSB, cuja propaganda abriu destaque para familiares do socialista. A viúva, Renata Campos, foi à TV pedir votos para Paulo Câmara, enquanto seus três filhos mais velhos vêm se dividindo em visitas junto ao candidato ou ao vice da chapa, Raul Henry (PMDB), pelo interior.

— O candidato revela despreparo porque a todo momento evoca a figura do ex-governador. O discurso é decorado. Esse uso abusivo começa a incomodar alguns setores. O processo de comoção começou a decantar — afirmou o petebista, que, em entrevista a uma emissora de rádio, semana passada, fez questão de ressaltar sua antiga aproximação com o ex-governador (que o ajudou a eleger-se senador pela Frente Popular, em 2010).

A família do ex-governador, por sua vez, saiu em campo para ajudar a eleger Paulo Câmara, que já ultrapassou o adversário nas pesquisas de opinião.

— No time do qual ele (Campos) era técnico, só tinha craque. Mas havia um capitão, que assumia a responsabilidade em campo e resolvia, quando o jogo ficava difícil. Esse jogador vocês conhecem, é Paulo Câmara — disse João Campos, filho de Eduardo, em comício para o candidato escolhido pelo seu pai.

Ele vem usando até um discurso presente na oratória de Marina da Silva: “Meu pai não deixou herança, porque essa, quando dividida, pode acabar. Ele deixou um legado, e este, quanto mais se dividir, mais cresce, espalhando-se pelo Brasil todo”.

Dissidente do PSB (rompeu com Eduardo quando ele tentou indicar João para presidir o setor jovem do PSB), a vereadora e candidata a deputada Marilia Arraes não vê com bons olhos nem o excesso da presença de Eduardo na propaganda do PSB nem a presença da família usando o nome de Eduardo na campanha:

— Pernambuco não é monarquia. Liderança não é herança de família. Liderança se conquista. Espero que o estado não se deixe levar só pela emoção.

FILHOS DE CAMPOS REFORÇAM CAMPANHA

Filho mais velho do ex-presidenciável Eduardo Campos (PSB), João Campos, que tem intensificado a presença nos comícios da Frente Popular de Pernambuco, disse ontem que seu pai apontou o caminho a ser seguido no estado.

— Nós estamos sofrendo a perda do nosso pai. Mas eu tenho é que agradecer a Deus por duas coisas. A primeira é que meu pai se transformou nos seus ideais. A segunda é que, antes de partir, ele apontou o caminho a ser seguido para Pernambuco continuar avançando — afirmou na cidade de Orobó, a 118 quilômetros da capital, onde esteve com os irmãos Pedro e Eduarda, em comício realizado pelo deputado federal Raul Henry (PMDB), candidato a vice na chapa liderada por Paulo Câmara (PSB), que lidera a coligação de 21 partidos.

Colega de escola de Campos e amigo da família, Câmara foi um dos responsáveis pela reaproximação do ex-governador com o Senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), antes considerado seu maior adversário político, hoje integrante da Frente.

Nos últimos dias de campanha, os dois têm se dividido para ocupar espaços onde o PTB do senador Armando Monteiro Neto, candidato à sucessão estadual, ainda está forte. Pedro e Maria Eduarda compuseram a caravana do vice-governador pela primeira vez, mas João vem acompanhando Henry há uma semana, e participando dos atos importantes em que Câmara esteja.

Quinta-feira, estiveram, na cidade de Passira, a cem quilômetros da capital. Do agreste, o vice e os filhos do ex governador seguiram para o sertão, onde passaram por Petrolina, Cabrobó, Terra Nova e Mirandiba. Hoje, marcam presença em Petrolândia e Salgueiro. Na segunda-feira, visitam Venturosa e Caruaru. Enquanto a mãe, Renata, gravou vídeo de apoio a Câmara, os filhos vêm cumprindo agenda no interior.

No Recife, os jovens já haviam aparecido juntos, ao lado de Câmara, na Ilha de Deus, uma ilha miserável, incrustada no manguezal com palafitas, onde foram construídas 400 casas de alvenaria, creche, escola, praças e até uma ponte de concreto, substituindo uma de madeira. A Ilha foi o primeiro local visitado por Eduardo Campos no seu primeiro dia de governo.

Depois de visitar a ilha, terça-feira, João não quis falar à imprensa, mas deu um depoimento para uma TV comunitária: “Fiquei muito feliz de vir aqui hoje, porque esse é um dos lugares do Recife que carregam meu pai ainda vivo, por tudo que ele fez aqui e pela felicidade que ele tinha de ver a alegria do povo da Ilha de Deus com as obras que ele fez.”

O GLOBO




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Autor Everaldo Paixão

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