Num
Brasil em que 52% do eleitorado é feminino, apenas três mulheres vão comandar
uma das 92 grandes cidades com mais de 200 mil eleitores
Raquel Lyra (PSDB) foi a primeira mulher eleita prefeita em
Caruaru
Foto: Reprodução/Facebook
MARCELA BALBINO e PAULO
VERAS
politica@jc.com.br
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“Negro
nesse País ainda sofre discriminação. Negro, pobre, mulheres,
homossexuais." É assim que Judite Botafogo (PSDB), a prefeita eleita de Lagoa do Carro, na Mata Norte,
descreve a campanha municipal.
Mulher e negra, Judite é exceção no mapa
político de Pernambuco. Dos 2.259 prefeitos e vereadores eleitos no Estado,
apenas 5,4% têm a pele preta. Maioria no eleitorado, as mulheres são apenas
12,6% dos eleitos.
Quando
disputou a primeira eleição, há exatos 20 anos, a tucana ouviu que ninguém ia
votar numa “menina negra”. Professora da rede pública, ela adotou o slogan “com
lápis e caneta, vote na preta”. “Usaram de tudo para me atacar. O fato de ser
negra e o fato de ser pobre foram os ataques maiores”, conta. Dos 184 prefeitos
pernambucanos recém-eleitos, apenas cinco declararam à Justiça Eleitoral ter a
pele preta, são eles: Erivaldo Oliveira (Serrita), Pel (São José da Coroa
Grande), Luiz Aroldo (Águas Belas) e Botafogo (Carpina), irmão de Judite.
Brasil
Num
Brasil em que 52% do eleitorado é feminino, apenas três mulheres vão comandar
uma das 92 grandes cidades com mais de 200 mil eleitores.
Uma delas é a
caruaruense Raquel Lyra (PSDB), que, quando
criança, ouviu que o pai, o ex-governador João Lyra Neto (PSDB), não teria
herdeiros políticos por não ter filhos homens. Raquel é a primeira mulher
eleita para a Prefeitura de Caruaru.
“Têm
estudos que mostram que nesse compasso vão ser 185 anos para a gente conseguir
igualdade”, grifa a tucana. Uma das 26 prefeitas eleitas em Pernambuco, ela
explica a baixa representatividade de mulheres, inclusive no parlamento. “Vai
desde a impossibilidade de a gente participar de partidos políticos, que são na
sua grande maioria gerenciados por homens. A definição dos recursos
(partidários) é deles na grande maioria das vezes. E a grande dificuldade que a
mulher tem de conseguir sair de casa e ultrapassar todos os obstáculos que
existem para que ela possa entrar na vida política”, lembra.
Pernambuco,
atualmente, é formado por dez etnias e 13 povos indígenas. É aqui onde está a
quarta maior população do Brasil, mas nem por isso há maior participação deles
na política. Este ano, foram eleitos somente 13 pessoas que se declararam
índios no Estado, sendo dois prefeitos, em Lajedo, no Agreste, e Tacaratu,
no Sertão.
Na
cidade sertaneja moram os pankararus. O prefeito reeleito, José Gerson da Silva
(PSB), 50 anos, é filho de índios da etnia kambiwá, mas, apesar da
descendência, enfrenta resistência das aldeias. Inclusive, conta ele, “ganhei
em todas as localidades, menos na área dos índios”. Os pankararu são um dos
povos mais politizados e cheios de divisões internas. “Eles são muito rigorosos
e cobram muito do prefeito, mas eles têm o direito de cobrar, porque a maioria
das terras em Tacaratu são indígenas”, conta. A cobrança é por mais assistência
à saúde, à educação e acesso à água. O município sertanejo passa sufoco por
causa da seca que atinge várias cidades nordestinas. Ciente das dificuldades, o
prefeito promete tirar do papel, nessa segunda gestão, a secretaria indígena,
dedicada exclusivamente ao atendimento à população.
Esta
é a primeira eleição municipal em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
solicitou dados aos candidatos sobre raça e cor. Há no Brasil uma
subnotificação nas declarações, a exemplo de pessoas pretas que se declaram
pardas ou pardas que se declaram brancas. Nos Estados do Norte e Nordeste, a
maioria dos eleitos se diz parda, com exceção do Rio Grande do Norte. Já nas
regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, grande parte se autodenomina branca.
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