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Ninguém está imune ao zika

Um novo mapa de dispersão do vírus pelo mundo mostra que países ricos também estão ameaçados. Isso pode ajudar na luta contra a doença
MARCELA BUSCATO

O mosquito Aedes aegypti. Ele transmite o zika vírus, que pode causar microcefalia em bebês cujas mães foram infectadas na gravidez (Foto: Thinkstock)

O vírus zika segue sua escalada.  Ele é suspeito de causar boa parte dos 3.611 casos de microcefalia em  bebês no Brasil desde outubro de 2015, segundo o levantamento mais recente do Ministério da Saúde. No dia 17 de janeiro, a Organização Pan-Americana da Saúde, braço da Organização Mundial da Saúde na região, declarou que 18 países, praticamente toda a América Latina, já detectaram casos de infecção pelo vírus. O invasor chegou até a América do Norte. Durante a última semana, apareceram notificações de casos nos Estados Unidos. Foram duas gestantes em Illinois, outra com suspeita de zika na Califórnia e três pessoas diagnosticadas na Flórida. Esses casos se somam aos primeiros registrados no início do mês: uma mulher no Texas e um bebê que nasceu com microcefalia no Havaí. Por enquanto, todos são de pessoas que trouxeram o vírus de outros países. Mas um novo estudo, elaborado por um grupo internacional de pesquisadores, sugere que é questão de tempo até que o vírus comece a se disseminar dentro dos Estados Unidos e, possivelmente, da Europa. “O vírus zika é uma ameaça global de saúde que não afetará apenas países em desenvolvimento, mas também nações ricas”, afirma o médico canadense Isaac Bogoch, especialista em doenças infecciosas tropicais do Hospital Geral de Toronto e um dos autores do estudo, publicado na semana passada na revista científica britânia The Lancet.

Para fazer a projeção, os cientistas americanos, canadenses e britânicos cruzaram o número de viajantes que partiram de aeroportos localizados em regiões do Brasil onde a presença do vírus é significativa com as condições climáticas e socioeconômicas de outras regiões do planeta. Esses dois últimos fatores ajudam a traçar a probabilidade de existir espécies de mosquitos que transmitem a doença: o Aedes aegypti, que prefere os trópicos, e o Aedes albopictus, mais comum em áreas temperadas, como parte do território americano, o sul da Europa, o norte da China e o Japão. Um levantamento realizado no ano passado pelo mesmo grupo de pesquisadores sugere que metade da população do planeta vive em áreas onde as duas espécies de mosquito se proliferam e estão, portanto, sob o risco de sofrer com doenças transmitidas pelos mosquitos.
Entre setembro de 2014 e agosto de 2015, cerca de 10 milhões de passageiros partiram das regiões do Brasil mais atingidas pela doença. É possível que, até maio de 2015, quando os primeiros casos foram notificados na Bahia e no Rio Grande do Norte, o vírus zika já circulasse pelo país, ainda que silenciosamente. Nesse período, a maioria dos viajantes, 65%, rumou para outros países da América, 27% viajaram para a Europa e 5% para a Ásia. O fluxo de viajantes é uma boa maneira de estimar o potencial de o vírus se alastrar. É dessa maneira que o vírus deve ter entrado no Brasil, em 2014.
Um levantamento do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) sugere que é provável que o vírus tenha vindo com algum viajante do Chile ou de países da Ásia, locais onde havia circulação do zika. Esses pontos de partida foram mais frequentes em 2014 do que a África, onde o vírus foi identificado pela primeira vez em 1947. Desde então, acredita-se que o zika tenha se espalhado pela Ásia, onde sofreu mutações antes de chegar à América. “Pelos números, é mais provável que o vírus tenha vindo por alguém infectado na Ilha de Páscoa, que pertence ao Chile”, diz Felipe Salvador, um dos autores do estudo da USP. A publicação do primeiro genoma completo do zika, no início do mês, a partir do material genético encontrado em quatro pacientes do Suriname, mostrou que o vírus da América é mais parecido com o asiático do que com o africano.
O potencial de o vírus zika se transformar em um problema de saúde pública também nas nações ricas pode acelerar o caminho até uma vacina, a melhor maneira de barrar a epidemia. O Ministério da Saúde divulgou estar em contato com laboratórios internacionais, para que eles colaborem com instituições brasileiras. “Os surtos nos Estados Unidos e na Europa devem ser menores porque as condições são mais adversas para os mosquitos”, afirma o epidemiologista britânico Moritz Kraemer, da Universidade de Oxford, um dos autores do modelo de dispersão do zika. “Mas se espera que a atenção internacional ajude nos esforços para chegar a uma vacina.”
O potencial de dispersão do vírus zika (acima) e a possível ocorrência no mundo de espécies de mosquito transmissoras da doença (Foto: ÉPOCA)

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Autor Everaldo Paixão

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