Decisão ocorre em meio a uma série de protestos contra a medida, que prevê dividir as escolas em ciclos únicos e fechar instituições. Caso se tornou uma crise de imagem para o governo
Por: Nicole Fusco e Eduardo Gonçalves
No dia em que mais um protesto contra a reorganização escolar em
São Paulo se tornou palco de confrontos entre manifestantes e a Polícia
Militar, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), decidiu suspender a
medida. O recuo se dá em meio a uma série de manifestações que transformaram a
questão da reorganização do ensino em uma crise de imagem para o tucano:
pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta revela que o governador alcançou a
menor taxa de aprovação desde o seu primeiro mandato - 28% do eleitorado
paulista considerou como ótimo ou bom o desempenho do tucano. A reprovação
também é a maior da sua trajetória: 30% qualificaram sua gestão como ruim ou
péssima. Além disso, seis em cada dez pessoas ouvidas (61%) disseram ser contra
as mudanças promovidas pelo governo e a maioria (55%) se expressou favorável
aos protestos. Pouco depois do anúncio, o secretário de Educação do Estado
caiu. Segundo o governo, Herman Voorwald pediu demissão.
O próprio
governador anunciou a suspensão da medida. Em coletiva no Palácio dos
Bandeirantes, Alckmin afirmou que o governo tem convicção dos benefícios
promovidos pela reorganização, mas decidiu aprofundar o debate com estudantes e
pais de alunos. "Vamos dialogar em escola por escola. O ano de 2016, que
seria de implantação da medida, será um ano de aprofundarmos esse
diálogo", disse o governador. O tucano esclareceu que não haverá mudanças
por ora: os alunos continuarão em suas escolas ao longo do ano que vem.
O projeto
previa o fechamento de 93 escolas pelo Estado, com o remanejamento de
estudantes e a organização por ciclos. Embora o governo tivesse em mãos estudos
que embasassem a decisão, a comunicação da medida pelo Estado foi falha desde o
início. Inicialmente em cidades da Grande São Paulo e depois na capital,
estudantes passaram a ocupar escolas que seriam fechadas. A ação rapidamente
foi transformada em uma questão política por sindicatos e movimentos sociais,
como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que trabalharam para inflar
os protestos: hoje, há quase 200 escolas ocupadas no Estado. Com a força das
manifestações, os grupos passaram a organizar protestos nas ruas. E não
faltaram cenas de truculência na ação da PM na tentativa de liberar as vias
ocupadas.
Ao longo
de seu pronunciamento, Alckmin afirmou que o Estado já tem 1.500 escolas de
ciclo único e que o desempenho dessas instituições é geralmente 15% melhor no
Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp). "Temos
convicção que a reorganização traz benefícios. Essas escolas são mais focadas e
não misturam alunos de 6 anos com os de 17", disse o tucano. Alckmin usou
uma frase do papa Francisco para explicar sua decisão. "Entre a
indiferença egoísta e o protesto violento há sempre uma opção possível: o
diálogo". No entanto, ele deixou a coletiva sem responder as perguntas dos
jornalistas.
Nesta
quinta-feira, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado ajuizaram
uma ação civil pública contra o Estado de São Paulo para que o plano de
reorganização seja suspenso. A ação destaca que houve "desrespeito ao
processo democrático" devido à falta de diálogo com os estudantes
atingidos pela reorganização. Segundo a Secretaria de Educação, o ciclo único seria
implementado, em 2016, em 754 escolas, forçando o remanejamento de 311.000
alunos. O texto ainda pede à Justiça uma multa de 100 reais por dia pelo não
cumprimento da medida.
Nesta
sexta-feira, um grupo de cerca de 200 pessoas iniciou uma passeata da frente da
Universidade de São Paulo (USP), na Zona Oeste de São Paulo, até a Avenida
Paulista, no centro. Além da Paulista, outras avenidas importantes da cidade,
como Faria Lima e Rebouças, foram bloqueadas e a PM interveio para liberar as
vias. O Batalhão de Choque chegou a jogar bombas de efeito moral e de gás
lacrimogêneo contra os estudantes.
Fonte: Veja
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