Fim da Segunda Grande Guerra gera patriotismo e ufanismo nas ruas do Recife e das cidades do interior
"Motivo falecimento grande presidente Roosevelt hasteei bandeira meio-pau", Manoel Dantas, delegado de Bonito. Registros dos episódios finais da Segunda Guerra mostram a relação do Brasil com EUA
Foto: Arquivo JC/Imagem
O Diário Oficial do Estado de Pernambuco do dia 7 de setembro de 1945, data da Independência, informa na página do Poder Executivo que o interventor federal Etelvino Lins de Albuquerque havia recebido a visita protocolar, no dia anterior, no Palácio do Campo das Princesas, do comandante da base naval norte-americano Recife, o capitão de fragata A.E. Kelhefner, seis dias depois da assinatura de capitulação incondicional pelo Japão, acabando com o último obstáculo dos aliados na Segunda Grande Guerra. O interventor e o comandante tiveram uma “cordial e demorada palestra”, representando dois países vencedores do maior conflito da história.
As relações entre o Brasil e os Estados Unidos viviam o momento mais profundo e próximo. “É um privilégio para mim enviar em nome das Forças Armadas dos Estados Unidos da América do Norte no Atlântico Sul as mais cordiais saudações e felicitações. ...Expresso votos de continuidade da firme amizade entre nossos países”, publica o D.O. do dia 9 de setembro o telegrama ao interventor Etelvino Lins do general de brigada norte-americano, Lehman Miller, que felicita pela passagem da data nacional.
Os gestos demonstram a deferência e proximidade dos governos e militares dos dois países aliados e vencedores na maior guerra, em amplitude de nações e na mortandade de militares e civis já viveu. Quatro meses antes, com a rendição da Alemanha de Adolfo Hitler, o interventor Etelvino Lins havia recebido um agradecimento especial, em meio a infindáveis telegramas de prefeitos e populares congratulando-se pela queda de Berlim e o fim do conflito. “Agradeço expressões e cumprimentos telegrama me enviou pela vitória das Nações Aliadas. Cordiais saudações, Getúlio Vargas”, diz a mensagem a Etelvino, do Rio de Janeiro, em 15 de maio de 1945.
Trinta dias antes, as forças aliadas avançavam na Europa, os dias finais da guerra também e a derrota de Hitler e do nazi-fascismo era iminente, mas uma notícia choca e comove Pernambuco e o País. O Diário Oficial de 17 de abril de 1945, a poucos dias da queda de Berlim e rendição alemã, publica as primeiras mensagens de pesar de prefeitos, delegados, juízes, promotores e populares ao interventor federal Etelvino Lins, em solidariedade pelo falecimento do presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt. “Motivo falecimento grande presidente Roosevelt hasteei bandeira meio pau na delegacia”, comunica o delegado de Bonito, Manoel Dantas.
Da comoção ao ufanismo foram 17 dias. Em 3 de maio de 1945, uma quinta-feira, chega ao povo pelo rádio as primeiras notícias da queda de Berlim e libertação da Itália, recebidas por imenso êxtase. Nos dias seguintes, uma inundação de mensagens publicadas pelo D.O. traduzem o sentimento de orgulho dos pernambucanos com a vitória aliada e a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na guerra, com saudações a Etelvino e a Getúlio Vargas. Os registros estão nos arquivos da Superintendência de Preservação do Patrimônio Histórico da Assembleia Legislativa Estadual.
ALEPE NA 2ª GUERRA MUNDIAL
Legislativo se cala. Notícias só nos jornais
Diário Oficial de Pernambuco de 12 de novembro de 1937 publica decreto da destituição do governador Carlos de Lima Cavalcanti por Getúlio Vargas. Assume interventor militar coronel do Exército, Amaro de Azambuja, que 15 dias depois transfere o poder ao in
Ayrton Maciel/JC Imagem
Oito anos antes de 2 de setembro de 1945, data da capitulação do Japão e o fim do maior conflito da história da humanidade, a Assembleia de Pernambuco, as demais Casas Legislativas e Câmaras Municipais e o Congresso Nacional foram emudecidos. O presidente Getúlio Vargas instala a ditadura do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, um golpe de Estado que cancela a eleição presidencial marcada para janeiro de 1938. Vargas fecha o Congresso, faz a intervenção nos Estados e passa a governar com um Conselho de Estado. Os Conselhos Administrativos estaduais fazem papel de Legislativos e de Tribunais de Contas, com atuação muito mais de chancelar os atos dos interventores do que de autorizar as medidas dos governos.
O Diário Oficial do Estado, do dia do golpe de Vargas, uma quarta-feira, traz a última sessão da Alepe – composta por 36 deputados – antes do mergulho no silêncio. Fechados, os Conselhos passam a receber propostas orçamentárias, decretos-leis dos interventores, ofícios, atos, portarias, aberturas de crédito, auxílios e apoios financeiros a entidades e até medidas de proteção a menores. Os prefeitos eram nomeados e tinham que pedir autorização e prestar contas aos Conselhos das ações financeiras e administrativas. Tudo documentado no D.O. e arquivados na Superintendência de Preservação do Patrimônio Histórico da Alepe.
Os Conselhos estavam impedidos de discutir política. Nas atas das reuniões não constam decisões políticas do interventor, debates ou posições de oposicionistas no Estado. Sob a ditadura de Getúlio Vargas, os interventores eram a extensão do braço do regime político do Estado Novo. Ao longo do período da ditadura, a Segunda Grande Guerra começou, em 1939, expandiu-se pela Europa e a Ásia, e chegou ao fim em 2 de setembro de 1945.
O Estado Novo sobreviveu até um mês depois da capitulação do Japão. Ao se instalar, no 10 de setembro de 1937, o Diário Oficial trazia os últimos atos do governador Carlos de Lima Cavalcanti, um dos quais o decreto suspendendo o expediente nas repartições públicas e declarando luto e hasteamento da bandeira a meio-pau, pela morte no Recife de Estácio Coimbra, ex-vice-presidente da República (1922-1926) e ex-governador (1926-1930), destituído na Revolução de 30. Assume como interventor federal o coronel Amaro de Azambuja Vilanova, comandante da 7ª Região Militar, que passaria o poder para Agamenon Magalhães, ex-aliado de Carlos de Lima, 15 dias depois.
Aliado de Vargas e primeiro interventor no Estado, em 1930, Carlos de Lima havia sido eleito governador, em eleição indireta dos constituintes de 1934, e deveria governar até 1939, mas caiu em desgraça ao defender a manutenção das eleições de 1938 e a normalização constitucional do País. Em 1º de setembro de 1939, dois anos depois, Adolf Hitler invade a Polônia. Vargas declara a neutralidade do Brasil no conflito, o que quebra em 1942, e declara guerra à Alemanha.
ALEPE NA 2ª GUERRA MUNDIAL
Professor Eutrópio, que vira expedicionário e morre em combate, um exemplo para os alunosHá
70 anos o Japão assinou a rendição. No dia 2 de setembro, depois das duas bombas atômicas, os japoneses capitulam e encerram a guerra
Diário Oficial de Pernambuco de abril de 1945, último ano da ditadura do Estado novo. O interventor Etelvino Lins, que havia substituído Agamenon Magalhães, reconduzido por Getúlio Vargas ao Ministério da Justiça, em março, publica as contas do governo de
Ayrton Maciel/JC Imagem
A vida segue no Brasil sem liberdade e num mundo em guerra. Sob ditadura, o País acompanha pelos jornais o noticiário do conflito e da atuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Voluntários morrem em solo da Itália combatendo o Exército alemão. O Diário Oficial do dia 25 de abril de 1945 publica a portaria 97, da Secretaria de Interior, na qual o interventor Etelvino Lins autoriza a Escola Industrial de Pernambuco a “perpetuar a memória do combatente Eutrópio Wilhelm de Freitas no umbral de uma das salas de aula”. O expedicionário Eutrópio, que havia tombado “em operações de guerra”, como soldado da FEB, era professor de Desenho e ex-aluno da escola. “Uma placa com o seu nome e o seu feito para servir de exemplo aos educandos”, determina a portaria.
A 2ª Grande Guerra caminhava para o fim das operações militares na Europa. Os países aliados derrotam a Alemanha, que assina a capitulação às 2h40 do dia 7 de maio. No Oceano Pacífico, o conflito prossegue por mais três meses. O Japão resiste até que os norte-americanos lançam as bombas atômicas sobre Hiroshima, dia 6 de agosto, e Nagasaki três dias depois. Um apocalipse sobre o orgulho militar japonês.
A rendição seria assinada no dia 2 de setembro, há 70 anos. Quatro meses antes, dia 1º de maio, o D.O. publica ato de Etelvino Lins nomeando o 1º tenente da reserva do Exercito, Aluisio Viana Pais de Barros – posto à disposição pelo ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra – para exercer o cargo de delegado de Vigilância Geral e Costumes, um braço da polícia política do Estado Novo. Três dias depois, o D.O. publica as primeiras mensagens a Etelvino de congratulações e relatos de ufanismo nas ruas pela derrota do nazi-fascismo. “...Glória aos que tombaram santa causa liberdade do Universo”, assina José Pedro, prefeito da Lagoa dos Gatos. “Vitória aliança civilização contra barbárie foi aqui brilhantemente comemorada..., prevalecendo calorosas ovações presidente Vargas, grande estadista Agamenon Magalhães e V. Excia”, relata Hermes de Carvalho, prefeito de Manissobal.
DO JCONLINE
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