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Agentes penitenciários admitem que presos controlam celas no Recife

Sem efetivo suficiente, oficiais raramente entram nos pavilhões.
Portas são controladas pelos chaveiros, detentos escolhidos para a função.

Do G1 PE


Mais uma denúncia coloca em xeque a integridade do sistema penitenciário de Pernambuco. Desta vez, agentes penitenciários que atuam no Complexo Prisional do Curado, na Zona Oeste doRecife, confessam que não têm controle sobre os pavilhões da unidade onde ocorreu uma rebelião de três dias na semana passada. Eles afirmam que não têm efetivo suficiente para supervisionar todo o complexo. Por isso, são os presos que mandam e controlam os pavilhões. Em alguns pavimentos, os oficiais nem conseguem entrar. “O preso está preso dentro do muro, mas dentro da cadeia ele está solto”, afirma um dos oficiais em entrevista ao NETV 1ª Edição desta quinta-feira (29).

“Até tem cadeado na frente do pavilhão, mas as celas, lá dentro, quem fecha e quem abre são eles mesmos. O pavilhão é todo quebrado, a laje é toda furada, eles saem por cima, tem pavilhão que nem laje tem. O preso faz o que quer, circula por onde quer e o agente penitenciário não consegue entrar”, revelou um dos oficiais que conversou com a reportagem da TV Globo. Segundo os agentes, que preferiram não se identificar, tudo isso acontece porque faltam oficiais dentro dos presídios. Em entrevista ao Bom Dia Pernambuco desta quinta, o vice-presidente da categoria já havia reclamado do déficit de pessoal. “Os agentes são vitimas de péssimas condições de trabalho. Para se ter uma ideia, hoje no complexo há 400 presos para um agente penitenciário. São quatro agentes por plantão, quando o ideal eram 200”, afirmou João Carvalho.

Nessas condições, os agentes ficam de prontidão apenas nas guaritas dos presídios. “[A função dos agentes acaba sendo, única e exclusivamente, tomar conta do portão. Ficam na chamada gaiola, na permanência, e não conseguem de forma alguma combater o tráfico de drogas, a aquisição de armas, de facas, de celulares. Para um agente penitenciário chegar até o pavilhão hoje, só se houver uma rebelião”, admite um oficial. De acordo com o governo do estado, há 31 mil presos em Pernambuco e somente 1.420 agente penitenciários, que trabalham em escalas de vinte e quatro horas de plantão.
Sem controle oficial, os pavilhões acabam sendo controlados pelos “chaveiros” -- detentos que desfrutam de certos privilégios. São escolhidos pelo chefe de segurança do presídio para controlar as portas dos pavilhões, mas acabam controlando também toda a vida dentro dos pavimentos, inclusive o comércio de drogas, armas, celulares e comidas. Eles têm até o direito de usar fardas e fazer a contagem dos outros detentos. “O chaveiro vem suprindo a falta de agentes penitenciários. Ele que organiza tudo dentro do pavilhão, tranca, comercializa tudo lá dentro, tenta manter uma ordem dentro do pavilhão, divide por cela, tudo. Tudo o que o estado devia tá fazendo quem tá fazendo é o chaveiro”, denuncia um oficial. “O estado não chega até esses pavilhões pela falta de efetivo”, ressalta.

Comércio

Além de tomar conta da entrada dos pavilhões, os chaveiros controlam o comércio dentro das unidades. Segundo os agentes, é vendido de tudo dentro dos pavilhões. Facas chegam a custar R$ 300 e uma coca-cola de dois litros, R$ 12. Os oficiais ainda confessam que é difícil coibir a entrada dos produtos, pois os familiares levam muitos mantimentos nos dias de visita e são poucos os oficiais disponíveis para fazer a revista do material, o que acaba contribuindo para a demora da entrada dos parentes.

Os agentes explicam que muitos presos vendem esses mantimentos, ao invés de consumi-los. Por isso, até cantinas foram formadas dentro dos pavimentos e os donos das maiores conseguem inclusive mandar dinheiro para a família. “Tem preso que prefere até delinquir de novo para continuar preso e continuar sendo dono da cantina. A família tá vivendo bem. Tem preso que tem até apartamento em Boa Viagem com dinheiro de cantina”, contou um agente.

Outros detentos preferem celas exclusivas. “Tem cela que tem sala, quarto e banheiro. enquanto em outras celas bem apertadas têm que morar 20 presos dentro delas”, conta um agente. Ele diz ainda que não é o dinheiro que determina quem tem direito a essas mordomias, mas o poder que os detentos desfrutam dentro do presídio. Os chaveiros, mais uma vez, despontam como os mais privilegiados. “Tem preso que tem regalia porque comanda, tem voz ativa no meio dos presos e o estado, a direção da unidade, concede regalia a esses presos porque eles seguram a população carcerária e ela não se rebela”, revela um oficial.

Prisões

Além de chegar aos presídios por meio dos familiares, os produtos comercializados pelos detentos são jogados por cima dos muros da unidade prisional. Isso acontece pois, como reclamam os agentes, o complexo fica no centro de um bairro residencial. Dessa forma, comparsas dos detentos podem jogar armas e drogas para os presídios e repor as que são apreendidas pela polícia. Uma vez dentro do presídio, o material é vendido e repassado para outros pavimentos pelas paredes.

Na manhã desta quinta (29), dois homens foram flagrados tentando jogar pacotes de maconha para dentro do Complexo do Curado. Eles foram presos pela Polícia Militar e autuados por tráfico de drogas. Os dois foram encaminhados ao Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima. A mesma ação foi repreendida na tarde de quarta. Mas, daquela vez, foram apreendidos seis adolescentes que tentavam jogar armas para os detentos. Eles foram recolhidos e estão detidos na Funase e na Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente.

Estado

O secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, comentou as denúncias e voltou a dizer que o estado não vai tolerar práticas ilegais no interior dos presídios. “Nós estamos no governo há 29 dias e vamos combater todas essas práticas. A posse dos presídios nós tomamos, estamos garantindo a ordem e vamos impedir a violência a qualquer custo. Quem for agente público será punido e os presos pegos praticando outras irregularidades também serão punidos. Não vamos tolerar a irresponsabilidade ou o crime organizado”, afirmou em entrevista ao NETV 1ª Ediçãodesta quinta.

Nesta manhã, Eurico também convocou uma coletiva de imprensa para comentar a decisão dogovernador Paulo Câmara de decretar estado de emergência nos presídios de Pernambuco, anunciada na quarta.


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Autor Everaldo Paixão

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