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RETROSPECTIVA 2014

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O ano de 2014 foi conturbado. Revoltante para os brasileiros pela corrupção no governo e triste pela derrota na Copa. Em âmbito mundial, houve momentos históricos como a reaproximação de EUA e Cuba, mas também períodos de perplexidade com a espécie humana diante das atrocidades do Estado Islâmico.

Um país eleitoralmente dividido

Dilma Rousseff é reeleita depois de promover uma campanha destrutiva, como pouco se viu na história do País. O resultado foi uma vitória por uma margem apertada e um Brasil que sai rachado das urnas

Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)
Em 2014, o Brasil viveu a eleição mais acirrada da história do seu período democrático. A vitória de Dilma Rousseff (PT) com a apertada margem de 3,4 milhões de votos desenhou um cenário de divisões e acirramentos ideológicos. As urnas racharam o País por renda e escolaridade, levando Dilma a vencer onde há mais beneficiários de políticas assistencialistas e Aécio a liderar em Estados produtores. A votação expressiva da petista no Nordeste e nas regiões mais pobres e a de Aécio onde se pagam mais impostos criou um clima hostil entre brasileiros conhecidos pela tolerância e pela boa convivência com as diferenças. Passados dois meses da eleição, as relações odiosas entre eleitores estão amenas, mas os sinais de que a sociedade está mais politizada são evidentes. Além disso, a oposição que emergiu das urnas está fortalecida e preparada para atuar como poucas vezes se viu desde que o PT assumiu o País há mais de uma década. Com opositores dispostos ao enfrentamento e amparados pelos mais de 51 milhões de eleitores que queriam alternância de poder, Dilma enfrenta dificuldades políticas desde que foi declarada reeleita.
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ROUND FINAL
Dilma e Aécio Neves protagonizaram uma disputa acirrada no segundo
turno das eleições. No fim, deu Dilma por uma diferença de 3,4 milhões de votos
O cenário pós-eleição e o aumento surpreendente do papel da oposição são resultados de uma disputa marcada por reviravoltas. A morte trágica do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), vítima de um acidente aéreo ainda no início da campanha, fez com que a comoção revertesse em apoio à sua vice, Marina Silva, que, galgada à vaga de candidata, apareceu nas pesquisas como favorita durante semanas. Marina se tornou um problema para o PT e o alvo preferencial dos ataques de campanha. Capitaneados pelo marqueteiro João Santana, os programas de rádio e televisão da petista partiram para ataques contra seus adversários, em um confronto no qual valia tudo, menos perder a eleição. Diante dos ataques de Dilma e de peças publicitárias violentas e agressivas, Marina Silva silenciou. Alegando preferir discutir ideias em vez de trocar acusações, viu seu favoritismo sucumbir. A candidata encolheu, desidratou em tempo recorde, e a disputa retomou a polarização histórica entre PT e PSDB.
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O PADRINHO
Lula teve participação decisiva na reta final das eleições. A expectativa é de que
ele exerça maior influência no segundo mandato, a despeito das manifestações
pelo País (abaixo) que revelam o esgotamento do atual modelo de gestão petista
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No segundo turno, o adversário de Dilma ainda precisou enfrentar uma verdadeira guerrilha virtual, montada na campanha pelo ex-ministro Franklin Martins visando à desconstrução dos adversários nas redes sociais. O PT usou a máquina partidária, treinou militantes e fez uma campanha destrutiva, como nunca se viu. Em muitos momentos durante a campanha, o tucano Aécio Neves dava sinais de que iria virar o jogo. Mas Dilma saiu vencedora da guerra eleitoral, embora não tenha apresentado oficialmente um plano de governo e tenha feito apenas promessas genéricas.
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O FATO NOVO
O trágico acidente aéreo que ceifou a vida do então candidato do PSB,
Eduardo Campos, contribuiu para alterar o rumo das eleições
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O resultado apertado ficou aquém dos planos petistas e da mobilização feita para elegê-la. Reeleita, assume o segundo mandato bem menos poderosa do que foi. Terá uma base de apoio menos disposta a aceitar suas imposições. As dificuldades nacionais refletiram-se nos Estados e o poderoso PT da presidente obteve desempenho ruim na ­com­posição da Câmara Federal, das Assembleias Legislativas e do Senado Federal. Na Câmara, o número de deputados federais caiu de 86 para 70, numa comparação entre as eleições de 2010 e de 2014. Para piorar, não elegeu nenhum deputado federal em seis Estados. Nos governos estaduais, o PT fez cinco governadores, enquanto seu aliado mais poderoso e ameaçador, o PMDB, elegeu sete. Em número de habitantes que serão governados, o PSDB de Aécio Neves sai na frente, com o comando de cinco Estados cujas populações ultrapassam 72 milhões de pessoas. O PT governará 48,7 milhões de habitantes.
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As dificuldades eleitorais incentivaram petistas e aliados a deixar claras suas resistências ao estilo de governar da presidente reeleita. Embora discurse garantindo que vai unir o Brasil e aumentar o diálogo com aliados e com integrantes do seu próprio partido, poucos são os setores da sociedade crédulos na sua boa vontade.
Fotos: Andre Penner/AP Photo, Eraldo Peres/AP Photo; Adriano Machado/AG. ISTOÉ; Walter Mello/A Tribuna de Santos/Folhapress

Um escândalo maior que o mensalão

A descoberta do propinoduto na Petrobras para favorecer partidos e políticos da base aliada do governo expõe internacionalmente a principal estatal do País e promete punir corruptos e corruptores

Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
Em março de 2014, o País ainda digeria a prisão dos caciques políticos condenados meses antes no processo do mensalão, quando surgiu um escândalo de proporções infinitamente maiores. Se o noticiário já relatava problemas de gestão na Petrobras e alguns negócios suspeitos, a deflagração da Operação Lava Jato descortinou um complexo esquema criminoso que teria desviado mais de R$ 10 bilhões dos cofres da mais importante estatal brasileira. A detenção do doleiro Alberto Youssef, conhecido do caso Banestado, somou-se à do ex-diretor de Abastecimento da companhia Paulo Roberto Costa, cujas ligações com o PP do mensaleiro José Janene – morto em 2010 – e a estreita relação com petistas de primeiro escalão encadearam-se numa lógica perversa. Quem esperava que o julgamento da Ação Penal 470 fosse o remédio para extirpar da política o mal da corrupção, não sabia o que ainda estava por vir.
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O DELATOR
Preso na Operação Lava Jato, o ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras Paulo Roberto Costa entregou à PF uma lista com
cerca de 60 nomes, entre ministros e parlamentares
Sob comando do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), o inquérito da Lava Jato desdobrou-se em mais de uma dezena de ações penais distintas. Em nove meses, a operação teve sete fases, a última delas – batizada de Juízo Final – colocou atrás das grades personagens até hoje intocáveis: os donos e principais executivos das maiores empreiteiras brasileiras, acusadas de prática de cartel, fraude em licitações e superfaturamento de contratos para o pagamento de propinas a agentes públicos e políticos. As investigações revelaram que o esquema também lavou recursos ilícitos em doações oficiais para campanhas políticas do PT, do PMDB, do PP e de outros partidos aliados do governo.
Por não ter jurisdição sobre autoridades de foro privilegiado, Moro não pôde avançar nessa seara. Evidências e indícios colhidos pela Polícia Federal e o MPF foram encaminhados ao ministro Teori Zavascki, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, e também ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem caberá decidir sobre eventual pedido de investigação dos políticos. Costa, que firmou um acordo de delação premiada para reduzir sua pena, entregou uma lista com cerca de 60 nomes, dos quais 28 já vazaram, entre os quais estão ministros, governadores e parlamentares.
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MAIS UM TESOUREIRO
Como no mensalão, outro tesoureiro petista é envolvido:
João Vaccari Neto. Ele é apontado como beneficiário da propina
O benefício da delação premiada foi uma das novidades introduzidas pela Lava Jato.
Já existia desde 2003, mas foi aperfeiçoado. Como disse o procurador Deltan Dallagnol, integrante da força-tarefa da Lava Jato, as colaborações têm utilidade social. Servem para trocar “um peixe pequeno por um peixe grande”. “Quando você pega uma sardinha, você pode comer essa sardinha ou usá-la como isca para pegar um tubarão”, diz. Até agora, 12 investigados firmaram acordos de delação, mas apenas quatro foram homologados pelo STF. Ao propor um acordo, o investigado deve convencer os procuradores e delegados de que possui informação nova e valiosa. Tudo o que for dito em depoimento precisa ser corroborado por evidências materiais, caso contrário, não vale e o investigado perde o benefício.
Youssef e Costa foram os primeiros a entrar em acordo e revelar como funcionava o pagamento da propina, os percentuais pagos aos partidos e os principais operadores. Com a ajuda deles, a PF chegou ao ex-diretor Internacional Nestor Cerveró, que ainda não foi indiciado, e ao ex-diretor de Serviços Renato Duque, que chegou a ser preso e depois acabou liberado por habeas corpus – mas continua sendo investigado. Outro personagem-chave arrolado por ambos foi o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que ainda permanece solto. Das delações mais produtivas até agora, destacam-se as dos ex-executivos da Toyo Setal Julio Camargo e Augusto Mendonça Neto, responsáveis por corroborar as provas que PF e MPF tinham contra os grandes empreiteiros. Outro delator importante de Duque foi o ex gerente-executivo Pedro Barusco que não apenas entregou contas e nomes de autoridades, como se comprometeu a devolver aos cofres públicos cerca de US$ 100 milhões, algo em torno de R$ 260 milhões.
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O ELO COM O PT
O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque
representava a ponte do esquema com o PT
Há ainda outros delatores não identificados. Um deles teria prometido devolver o dobro desse valor.
Fotos: Joel Rodrigues/Folhapress; ED FERREIRA/AG. ESTADO; Geraldo Bubniak/AGB 

A Copa dos sonhos e do pesadelo

Partidas espetaculares, estádios modernos e uma festa que nenhum outro país jamais realizou. Só a seleção brasileira não fez jus ao maior Mundial da história

Amauri Segalla (asegalla@istoe.com.br)
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Dentro e fora de campo, extraordinária. Para a Seleção Brasileira, bisonha. Não é exagero dizer que a Copa do Mundo de 2014 foi, sob diversos aspectos, a melhor da história. Também não é incorreto afirmar que o time nacional conheceu, em seu próprio território, o maior vexame de todos os tempos. O Mundial surpreendeu pelo que não se esperava dele – organização quase impecável, estádios lotados, torcedores festejando nas ruas com segurança, transporte público eficiente – e decepcionou no ponto mais sensível para os brasileiros: a performance da sua seleção. A bordoada de 7 a 1 para a Alemanha, em plena semifinal e em pleno Mineirão, não só enterrou a segunda chance de conquistar o título em casa (o Brasil havia fracassado em 1950, na derrota para o Uruguai no Maracanã) como escancarou, da forma mais cruel possível as mazelas que há anos corroem o futebol do País. Foi, em suma, uma Copa inesquecível – para o bem e para no mal.
O curioso é que, antes de a bola rolar, havia enorme desconfiança quanto à capacidade brasileira de organizar um evento desse porte. Esperava-se um caos completo. Nas redes sociais, o bordão “Imagina na Copa” se tornou uma advertência contra o futuro sombrio que estava por vir.
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DECEPÇÃO
O lateral Marcelo lamenta um dos gols da Alemanha na
goleada por 7 a 1: a maior derrota da Seleção Brasileira em 100 anos
Atletas, jogadores e torcedores estrangeiros desembarcaram no País com a expectativa de encontrar o próprio inferno. Depararam-se com algo muito diferente. “Foi a maior Copa que vi e provavelmente jamais haverá outra igual a essa”, disse o alemão Jürgen Klinsmann, técnico da seleção americana e que tem nos ombros o peso de três Copas disputadas como jogador. “O País do futebol merecia um Mundial deste nível”, afirmou o italiano Fabio Cannavaro, capitão da seleção italiana campeã do mundo em 2006. “Se os jogadores deram espetáculo dentro de campo, a torcida fez o mesmo nas ruas e nos estádios.” Cannavaro lembrou dos hinos cantados a capela por multidões, principalmente pelos torcedores sul-americanos. Jamais o mundo do esporte – nem em Olimpíadas – viu coisa parecida. Um dado para ser lembrado: 700 mil estrangeiros de 203 nacionalidades entram no Brasil por terra, mar ou ar, número 40% acima da previsão oficial.
O time comandado pela dupla Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira não fez jus à festa. Foi, de longe, o maior fiasco nos 100 anos da seleção e talvez a maior derrota de um país, em qualquer esporte. A Alemanha humilhou a equipe mais vitoriosa (a única pentacampeã) da história do futebol e a que, de longe, produziu a maior quantidade de craques. À exceção de Neymar – que abandonou a Copa depois de receber uma joelhada criminosa do colombiano Zuñiga, nas quartas-de-final –, todos fraquejaram. O capitão Thiago Silva desabou emocionalmente nas oitavas-de-final, contra o Chile. Entre lágrimas, recusou-se a fazer a sua cobrança na decisão por pênaltis. No jogo contra a Alemanha, o zagueiro David Luiz falhou em pelo menos três gols do adversário. Durante toda a Copa, Fred foi um poste. Oscar, uma decepção. Daniel Alves, uma nulidade. Pior: Felipão revelou-se incapaz de interromper o blitzkrieg alemão, e a mesma paralisia ficaria evidente na decisão do terceiro lugar, quando o Brasil perdeu por 3 a 0 para o Holanda. Dado constrangedor: a Seleção Brasileira sofreu 14 gols, recorde negativo, e foi a mais vazada do torneio.
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TROFÉU
Jogadores da Alemanha comemoram o título mundial depois da vitória
por 1 a 0 contra a Argentina: os alemães foram os maiores
responsáveis pelo recorde de gols
Diversos indicadores comprovam as virtudes da Copa no Brasil. Segundo dados da Fifa, 3,6 bilhões de pessoas viram os jogos pela TV, ou 12,5% mais do que na África do Sul. Nas arenas, a média de público chegou a 53 mil pessoas, a segunda maior da história, atrás apenas do Mundial dos Estados Unidos (que tinha estádios maiores). Dentro de campo, craques como o alemão Toni Kroos, que comandou a seleção campeã, o argentino Messi e o holandês Robben protagonizaram grandes espetáculos, até mesmo para quem não é aficionado por futebol. Eles e outros talentos fizeram 171 gols no Mundial do Brasil, igualando o torneio da França, em 1998, que detinha a melhor marca. Para além do fiasco brasileiro, a Copa do Mundo foi mesmo soberba.
Fotos: João Castellano/Agência Istoé; AFP PHOTO/POOL/FABRIZIO BENSCH; André Mourão/Agência O Dia; Frederic Jean, AP Photo/Leo Correa; GABRIEL BOUYS

O terror do Ebola

O vírus nunca matou tanta gente e pela primeira vez extrapolou as fronteiras africanas. A assustadora epidemia evidenciou quanto o mundo ainda não está preparado para conter mais esta ameaça

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
O ebola já havia assustado o mundo antes. Mas nunca como em 2014. Um dos vírus mais letais conhecidos, ele matou mais de sete mil pessoas ao longo deste ano, infeccionou mais de 19 mil e, pela primeira vez, extrapolou as fronteiras da África. Houve quatro casos nos EUA, com uma morte, e um na Espanha. No Brasil, uma suspeita foi registrada em outubro. Souleymane Bah, 47 anos, vindo da Guiné, passou cinco dias hospitalizado no Instituto Evandro Chagas, no Rio de Janeiro, até ser liberado.
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CAOS
Em Serra Leoa, na África, médicos preparam corpos
de vítimas para serem enterrados
No início de agosto, a situação havia atingido um nível tamanho de gravidade que a Organização Mundial da Saúde declarou a proliferação do vírus uma emergência de saúde internacional. A entidade havia dado essa classificação apenas à pandemia de gripe provocada pelo H1N1, em 2009, e, em maio deste ano, à ameaça da volta da poliomielite a nações onde a doença está erradicada.
Os países mais atingidos foram Serra Leoa, Libéria e Guiné. Lá, o cenário causado pelo avanço do ebola foi de caos. Logo nas primeiras semanas ficou claro que nenhuma dessas nações tinha condições apropriadas para deter o vírus. Os hospitais superlotaram e os centros de quarentena montados para isolar os doentes mostraram-se frágeis. Infectados conseguiram sair dos locais e ir para as ruas. Em Monróvia, capital da Libéria, um rapaz contaminado foi ameaçado pelos moradores quando circulava pelas ruas. Foi resgatado e enviado novamente ao isolamento.
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Além da indisfarçável falta de estrutura – incluem-se aqui remédios insuficientes e deficiência de pessoal minimamente treinado para atender os doentes –, contaram para a proliferação assustadora do ebola aspectos culturais fortemente enraizados no continente africano. Até hoje, em muitos rituais de velório, há lavagem do cadáver à mão, sem qualquer proteção, e muitas famílias escondem parentes infectados dentro de casa.
Somente em dezembro a epidemia deu sinais de arrefecimento. Mas a violência com a qual o vírus se disseminou obrigou Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, a fazer um aviso e um apelo: “Devemos aprender as lições do ebola desenvolvendo melhores sistemas de alerta e de resposta rápida. Os países precisam se preparar para a próxima epidemia, que certamente ocorrerá”.
Foto: Sylvain Cherkaoui/Cosmos Photo/Glow Images 

Laços refeitos

Acordo histórico entre Estados Unidos e Cuba deu o primeiro passo para o fim do embargo econômico à ilha caribenha

Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br)
Foi preciso um intervalo de mais de cinco décadas, uma série de reuniões secretas no Canadá e até um empurrão divino, com a mediação do papa Francisco, para que, em dezembro, Estados Unidos e Cuba anunciassem a retomada das relações diplomáticas. Separados por apenas 140 quilômetros de distância e um abismo ideológico, os dois países acertaram uma troca de prisioneiros, que envolveu três cidadãos cubanos e dois americanos. Mais do que isso, o limite de remessas para Havana foi expandido, Cuba saiu da lista de “Estados patrocinadores do terrorismo” e as regras para viagens à ilha caribenha foram relaxadas, ainda que o turismo continue proibido. “Esses 50 anos mostraram que o isolamento não funcionou”, disse o presidente americano, Barack Obama, durante o anúncio oficial. “É tempo de outra atitude.” Nos próximos meses, os americanos planejam abrir uma embaixada em Havana, que, sob o comando de Raúl Castro, irmão de Fidel Castro, já passava por uma transformação, com novas regras para a atração de investidores estrangeiros e o direito sobre propriedades privadas.
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NOVOS AMIGOS
Barack Obama (à esquerda na montagem) e Raúl Castro trocaram prisioneiros
e palavras de confiança. O embargo, no entanto, continua
Estima-se que o rompimento com os vizinhos causou um prejuízo de US$ 1 trilhão para a pequena ilha de 11 milhões de habitantes. Antes da revolução de 1959, que levou Fidel ao poder, Cuba dependia amplamente das exportações de açúcar aos EUA. O regime castrista, no entanto, estatizou ativos estrangeiros e se aproximou da União Soviética. Com o colapso do bloco socialista e sob os efeitos do embargo econômico americano, que pune, por exemplo, empresas estrangeiras que negociem com a ilha, Cuba se aprofundou em crise. A partir de 2000, o eixo comercial virou-se para a Venezuela de Hugo Chávez. O país sul-americano passou a fornecer petróleo subsidiado à ilha em troca de médicos e professores, entre outros serviços – mas agora, com o preço do barril em queda e a economia castigada pela inflação e pelo desabastecimento, Caracas já não tem a mesma capacidade de ajudar Havana. A retirada do embargo é, portanto, estratégica. Mas, para o azar de Raúl Castro, sua aprovação depende do aval do Congresso americano, dominado por uma oposição republicana muito menos disposta a reatar com Cuba que Obama. Ali, a frase “somos todos americanos” proferida pelo presidente, em espanhol, dificilmente terá o mesmo efeito que teve para os cubanos que saíram às ruas para comemorar a nova fase.
Fotos: Yamil Lage/AFP Photo; Susan Walsh/AP Photo

As marcas de um ano agitado

Fatos, personagens e situações que construíram o ano de 2014

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Memória

As pessoas marcantes que nos deixaram em 2014

por Antonio Carlos Prado, Elaine Ortiz e Luisa Purchio
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Fotos: UPI/EFE; ALEXANDRE SANT’ANNA; Leo Martins/Ag. O Globo; Paulo Fridman; Televisa/AP Photo

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Autor Everaldo Paixão

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