As adeptas do expansionismo corporal fazem
exercícios compulsivos e intervenções cirúrgicas radicais. Muitas usam, mas
poucas admitem, uns certos remédios proibidos
Dolores Orosco
Qual sua
opinião sobre o conjunto estético da jovem dançarina na foto à direita? Como em
praticamente tudo neste mundo, as opiniões provavelmente serão muito
divergentes. Várias mulheres, inspiradas pelo padrão esguio das modelos
famosas, se arrepiarão de horror. Vários homens, autodeclarados adeptos da
fartura, aprovarão. Num ponto todos concordarão: isso nunca existiu antes. São
as mulheres em permanente expansão corporal.
Dotadas
de um tipo físico já naturalmente reforçado, elas abusam das cirurgias
plásticas até os limites da elasticidade cutânea, turbinam a musculatura com
exercícios que deixariam muitos homens sem fôlego e seguem dietas desenhadas
para estufar todas as curvas que podem ser aumentadas. Nos intervalos da
malhação, muitas também aplicam os aditivos que funcionam como uma espécie de
fermento dos músculos. São as megabombadas.
A maior
parte das substâncias usadas por mulheres que querem ficar bombadonas imita, de
maneira sintética, a testosterona. Com funções importantíssimas quando
distribuído de forma natural, esse hormônio existe em grandes quantidades no
corpo dos homens e, em proporções bem menores, no das mulheres. Quando injetada
artificialmente, a testosterona produz transformações chamadas de virilizantes
no organismo feminino. A voz fica mais grossa e nascem pelos escuros e espessos
no rosto e nos mamilos. Outro sinal patente de seu uso são as espinhas nas
costas, no colo e no rosto.
"Minha
voz passou de Sandy para Ivete Sangalo”, brinca Maysa. As transformações também
podem atingir os órgãos genitais, especialmente o clitóris, que chega a
quadruplicar de tamanho. “Quando turbinado pela testosterona, o clitóris incha
e pode chegar a medir 7 centímetros”, diz a endocrinologista Amanda Athayde,
diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “Ao contrário
do que seria uma conclusão natural, o aumento do clitóris não influencia no
prazer sexual. Algumas terminações nervosas são danificadas e a mulher pode até
perder a sensibilidade na região.”
Fotos:
João Laet/ Ag O Dia e Danilo Carvalho AGNEWS
O oposto
- Mirella Santos: antes empurrava 300 quilos; hoje, está mais magra e levou
junto o marido humorista
Na forma
aprovada pela medicina universalmente aceita, a testosterona sintética é
componente de uma série de medicamentos usados para tratar pacientes que sofrem
de degenerações musculares graves. Evidentemente, exige prescrição médica.
Malhadores
mal
orientados conseguem comprar o produto pela internet ou com receitas de médicos
amigos. É assim também que é feito o acesso ao GH, sigla em inglês para o
hormônio do crescimento. Produzido pela glândula hipófise, ele tem um papel
essencial no processo de crescimento das crianças e dos jovens. Nas mãos dos
malhadores bombados, é utilizado para aumentar a densidade óssea e a massa
muscular.
Mudanças
- Por
causa da atuação na ossatura, um de seus efeitos colaterais muda até o formato
do rosto. “Isso acontece com o alargamento dos maxilares. Em casos mais graves,
esse alargamento promove mudanças na arcada dentária, como a separação dos
dentes. O hormônio também reduz a gordura do rosto, deixando a mandíbula mais
projetada”, explica Marcello Bronstein, professor de endocrinologia da
Faculdade de Medicina da USP. Mais grave ainda são as agressões do GH e dos
esteroides anabolizantes a órgãos vitais como o coração e o fígado. “O coração
também é músculo e, assim, sofre os efeitos da hipertrofia. As artérias ficam
entupidas e aumenta o risco de infarto”, diz o fisiologista Renato Romani, do
Hospital Nove de Julho, em São Paulo. “Já o fígado é o estabilizador químico do
organismo. Quando ao volume natural de impurezas se acrescentam substâncias
ingeridas, como os anabolizantes, ele pode sofrer lesões graves.”
Há
mulheres que malham de maneira agressiva para conquistar músculos que muitos
homens não têm usando apenas uma força de vontade quase sobrenatural. A
paulista Fabiana Frota, 31, garante que é uma delas. Mulher de Alexandre Frota,
atualmente dedicado à carreira de jogador de futebol americano, e dançarina do
programa do Raul Gil, Fabiana é incisiva ao declarar que não tem “nem uma gota
de anabolizante, Deus me livre, de jeito nenhum” no corpo. “Em São Paulo, a
mulherada usa menos, mas no Rio de Janeiro é uma loucura. Elas querem ficar
enormes para alguém ver e chamar para desfilar no Carnaval”, compara.
A
dançarina começou a trabalhar os músculos há quatro anos com o personal trainer
Renato Ventura. O formato corporal foi encomendado pessoalmente por seu amigo
Frota, que pediu coxas grossas e nádegas bem pronunciadas, mas “nada de braço
de marmanjo”, segundo relembra Ventura. “Ele gosta de mulher fininha em cima e
gostosona embaixo”, explicita. Fabiana, analisa o treinador, tem “uma genética
mágica”, que faz com que ela ganhe músculos muito facilmente.
Para dar
um belo empurrão na genética, três vezes por semana Fabiana treina exclusivamente
coxas e nádegas com cargas bombásticas: 40 quilos em cada tornozeleira. “Com
esses pesos que eu também carrego na barriga, fico parecendo uma mulher-bomba”,
diverte-se ela, referindo-se aos infames coletes usados por terroristas
suicidas. As dez claras de ovo cozidas que come no lanche da tarde “me ajudaram
a ganhar o par de coxas que eu buscava”, diz a dançarina. A única coisa que ela
diminuiu foram as próteses mamárias de silicone. As originais, de 550
mililitros, foram trocadas por outras de 470, para que não produzam um efeito
gigantesco demais quando aparecem na televisão.
Esteroides
- Mulheres
que vivem profissionalmente do corpo não deixam tudo nas mãos da natureza. A
comparação à esquerda entre uma modelo conhecida pelo corpo esguio como a
sul-africana Candice Swanepoel e a musculosa Fabiana Frota mostra as diferenças
entre padrões distintos de beleza - e de resultados buscados com os exercícios
físicos. No caso das mulheres que usam substâncias proibidas, esses resultados
são potencializados. Os esteroides estimulam a produção de miócitos, nome das
células que constituem os músculos, e podem aumentar entre 30% e 50% a
circunferência das coxas.
“Sem o
anabolizante, o corpo leva o dobro do tempo para conseguir isso”, diz o
fisiologista Renato Romani. A ex-apresentadora de TV Mirella Santos costumava
fazer musculação sete vezes por semana, levantar 300 quilos com as pernas e
tomar intragáveis cinco shakes de proteínas por dia. Também dava uma
incrementada. “Há uns dez anos, usei anabolizante. Parei porque eu não gosto de
regra, de ter de tomar um negócio todo dia, na mesma hora”, lembra Mirella, que
abandonou o padrão mulher-bomba e voltou a ter um corpo enxuto fazendo
exercícios mais leves e uma dieta em que reina o sushi. “Malhamos juntos e terminei
entrando também na onda da alimentação saudável dela”, diz Wellington Muniz,
humorista do Pânico e marido de Mirella. Mas que ninguém fale em enxugar alguma
coisa perto de Maysa Abusada. O cachê dela em shows em que dança subiu de 800
para 3 000 reais com o corpo expandido. “Os homens viram o pescoço quando
passo”, alegra-se. “Mulheres e travestis também, mas é só para botar olho
gordo.” Abusada.
Com reportagem de Marília Leoni
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