A falta de freio de Marcelo Castro nos comentários vem acompanhada do descontentamento do governo com o combate ao mosquito Aedes aegypti
O governo avalia que o ministro da Saúde, Marcelo Castro (PMDB), está
desgastado e vem perdendo as condições políticas de permanecer no cargo
em razão de suas declarações e da ineficiência ao tratar do avanço da
dengue e do zika. Nesta segunda-feira, em uma visita à Sala de Situação
do Distrito Federal para Controle da Dengue, em Brasília, o ministro
voltou a dizer que o país está perdendo "feio" a guerra contra o Aedes aegypti.
A expressão, a mesma adotada na última sexta-feira, durante evento da
Fundação Oswaldo Cruz, em Teresina, foi considerada infeliz pelo
Planalto, sobretudo num momento em que integrantes do governo tentam
traçar estratégia para mobilizar a população no combate ao mosquito.
"Nós estamos há três décadas com o mosquito aqui no Brasil e estamos
perdendo a batalha feio para o mosquito", disse.
No governo, há quem avalie que Castro corre sério risco de "morrer
pela boca". Segundo um interlocutor do Planalto, o ministro já foi
orientado a tomar mais cuidado com suas declarações. Algo que ele dá
mostras de ter dificuldade em colocar em prática. À noite, após mais uma
reunião no Planalto para debater um plano de combate ao mosquito, ele
sugeriu que governos anteriores foram condescendentes na prevenção: "Nós
temos 30 anos de convivência com o Aedes aegypti no Brasil. Sem querer
culpar ninguém, acho que houve uma certa contemporização com o
mosquito".
A dificuldade em demiti-lo, porém, está associada ao risco de
impeachment da presidente Dilma Rousseff, uma vez que Castro é uma
indicação do deputado Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB na Câmara
que tem atuado em defesa do governo no Congresso. Também pesa a seu
favor o fato de que Castro, apesar de desastrado, é considerado aliado
fiel da presidente e um auxiliar em batalhas travadas no Congresso.
Mas a cada deslize, que começou tão logo o peemedebista foi indicado
para o cargo, o cerco contra ele se fecha e nos bastidores discute-se
sua saída. Na primeira declaração, antes mesmo de tomar posse, afirmou
ser favorável a uma contribuição sobre movimentações financeiras. Ele
sugeriu que ela deveria ser cobrada "no débito e no crédito". Criticado,
amenizou o discurso. Não voltou a falar em economia, mas passou a fazer
comentários considerados de gosto duvidoso e com potencial de desgaste.
Questionado sobre planejamento familiar em tempos de zika e
microcefalia, ele afirmou que "sexo era para amadores; gravidez, para
profissionais". Há poucas semanas, disse que "torcia" para que mulheres
fossem infectadas pelo zika antes do período fértil, como forma de
ganhar imunidade antes de a vacina ser desenvolvida.
A falta de freio do ministro nos comentários vem acompanhada do
descontentamento no governo com a condução das medidas contra o avanço
de dengue, chikungunya e zika. A maior preocupação é a ameaça do zika,
vírus identificado no ano passado no País e associado à epidemia de
microcefalia, má-formação que pode comprometer o desenvolvimento da
criança. Castro já disse ser necessário trabalhar para evitar o
surgimento de uma "geração de sequelados".
Uma das estratégias usadas pelo governo foi criar uma Sala Nacional
de Coordenação e Controle para combate ao mosquito e enfrentamento da
microcefalia. A meta era visitar até o fim do mês "todos os domicílios"
do país, um objetivo audacioso e que teve de ser adiado para o fim de
fevereiro.
A presidente Dilma já deu sinais de não estar satisfeita com o
trabalho de Castro. Ao sair da reunião com Dilma no Planalto, na
segunda-feira, o ministro foi questionado se levou puxões de orelha por
causa de seus conselhos e observações. Castro respondeu que não. Segundo
ele, a presidente está tão preocupada quanto ele em relação ao
mosquito. "A situação é grave, a situação é gravíssima. E nossa
obrigação, como agente público, é dizer, sem meias palavras, o que está
acontecendo", afirmou.
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