Aviões particulares, motos de alta
velocidade, carros esportivos, bichos exóticos e violência sem limites. Assim
agia Pablo Escobar, o traficante que aterrorizou a Colômbia nos anos 80 e 90.
Essa vida louca é contada em detalhes pelo filho dele, Juan Pablo, que hoje
mora na Argentina e escreveu um livro sobre a intimidade do pai.
E em Medellín,
na Colômbia, os repórteres Álvaro Pereira Júnior e Marcelo Benincassa refizeram
a trajetória de Escobar. Do bairro onde ele começou no crime, até o cemitério
onde está enterrado. E quando tentaram falar com o irmão dele, Roberto,
receberam até ameaças.
Com ele, não
tinha miséria e não tinha limite! Na fazenda da família, construiu um zoológico
particular. Com menos de 30 anos, já tinha faturado mais de US$ 100 milhões! Se
alguém o enfrentava, ele mandava assassinar. Mesmo que precisasse derrubar um
avião! Só aceitou se entregar à polícia depois de construir a própria cadeia.
Ele é Pablo Escobar, o traficante sanguinário que aterrorizou a Colômbia.
Agora, a vida
louca do chefe do cartel de Medellín é contada em detalhes por alguém que
esteve com ele até os últimos minutos: o seu único filho homem, Juan Pablo
Escobar.
O Juan Pablo,
filho do Pablo Escobar, não quis que o Fantástico fosse até a casa dele. Ele
prefere não divulgar o endereço. Por isso, preferiu marcar com a equipe em um
parque, o Parque Rosedal, um dos principais de Buenos Aires.
Juan Pablo,
arquiteto, tem 38 anos. Há 20, junto com a mãe e a irmã mais nova, escolheu a
Argentina para recomeçar a vida. Chegou a mudar de nome, Sebastian Marroquín,
para fugir do passado. Mas é difícil.
Antes mesmo de
a entrevista começar em Buenos Aires, ele já é reconhecido por uma turista
colombiana.
Fantástico: E
se ele saísse na rua em Medellín, onde nasceu, em quanto tempo seria
reconhecido?
Juan Pablo: Eu acho que alguns segundos.
Isso porque foi
na região de Medellín, na Colômbia, que Pablo Escobar construiu o seu império.
Em 1964, quando tinha 15 anos, Pablo se mudou para um bairro chamado La Paz, e
foi morar na rua mostrada no vídeo acima. Foi no local que ele começou no
crime.
Em poucos anos,
já era um multimilionário. Em 1977, quando o filho dele nasceu, Pablo Escobar
tinha 27 anos e já era o patrão da cocaína na Colômbia. Essa trajetória de
violência e excessos está no livro de Juan Pablo.
“A principal
testemunha dessas histórias é o meu próprio pai. No último ano da vida dele,
nós ficamos juntos, escondidos. Vinte e quatro horas sem ter o que fazer a não
ser conversar. Eu era só uma criança, mas guardei muitas lembranças”, conta
Juan Pablo.
Várias dessas
lembranças são da enorme propriedade que Escobar construiu para a mulher, Maria
Victoria, e os filhos, Juan Pablo e Manuela: a fazenda Nápoles. O filho sempre
ao lado do pai...
Era como ter um zoológico no quintal de
casa. Rinocerontes, elefantes, camelos. Quando o parque foi criado, ele tinha
muitas coisas ligadas à memória do Pablo Escobar espalhadas pelo local. Mas
hoje isso mudou completamente. Eles querem limpar o parque das lembranças do
narcotráfico. Mas tem certas coisas que não dá para apagar. Por exemplo, os
hipopótamos, que sobreviveram, se reproduziram e estão lá até hoje. Eles são
uma das atrações do parque temático que hoje existe na região.
A mansão da
família foi demolida recentemente. Mas as estradas ainda existem. Nelas, pai e
filho testavam seus brinquedos favoritos. Aos 11 anos, Juan Pablo tinha mais de
30 motos.
“Meu pai foi um
homem muito rico que perdeu todo o controle da fortuna”, diz Juan Pablo.
Quando não
ficava na fazenda, a família viajava muito. Em abril de 1982, Pablo Escobar
trouxe mais de 20 parentes para o Rio de Janeiro. Quatro meses depois, ele
voltou, mas só com os amigos.
“Nessa segunda
vez eu não fui. Perdi a festa. Eu era muito pequeno”, conta Juan Pablo.
Fantástico: Não
levaram as mulheres?
Juan Pablo: Não levaram as mulheres.
Além das
próprias memórias, Juan Pablo usou no livro depoimentos de ex-comparsas do pai.
Fantástico:
Você esteve frente a frente com essas pessoas?
Juan Pablo: Sim. Eu e o editor do livro. Nós até falamos com os mortos.
Fantástico: Como assim, mortos?
Juan Pablo: Com alguns que constam como mortos, mas não estão. Existe um ou
outro morto-vivo por aí. É que eu nasci nesse mundo do crime. Minhas babás eram
os piores bandidos da Colômbia.
À medida que ia
crescendo, Juan Pablo começava a entender que seu pai, tão generoso com a
família dentro de casa, era, da porta para fora, um traficante extremamente
violento. Pablo Escobar é apontado como o responsável por mais de 4 mil mortes
na Colômbia, entre os anos 70 e 90.
“Eu lembro do
dia em que meu pai me disse: ‘filho, minha profissão é ser bandido’”, diz Juan
Pablo.
Foi o tráfico
de cocaína para os Estados Unidos que fez dele um milionário. Naquela época, o
controle de fronteiras era frágil. Não havia nem raios x nos aeroportos. E quanto
mais ele enriquecia, mais inimigos ganhava. A disputa de quadrilhas espalhou
uma onda de terror pela Colômbia.
“Não é que meu
pai tivesse prazer com a violência. Só que ele era muito vingativo. Se fizessem
uma coisa contra ele, ele fazia dez piores”, conta Juan Pablo.
Na visão do
Juan Pablo, foi no lugar mostrado no vídeo acima, no prédio hoje abandonado,
que a guerra do narcotráfico perdeu completamente qualquer limite. No dia 13 de
janeiro de 1988, explodiu na porta do edifício Mónaco, um carro-bomba com nada
menos que 700 quilos de dinamite. Quem botou o carro foi o cartel de Cáli,
concorrente de Pablo Escobar no tráfico. E quem vivia no local era a família de
Escobar.
“Eles colocaram
a bomba para me matar, matar minha irmã e a minha mãe”, relata Juan Pablo.
Quando Pablo
Escobar viu o estrago, jurou se vingar. “O que veio foi uma vingança terrível,
que não se justificou. Eu, que fui uma das vítimas, deveria estar cheio de ódio
e rancor. Mas eu era quem mais pedia para o meu pai para que ele fizesse as
pazes com os inimigos”, lembra Juan Pablo.
Não adiantou.
Escobar ia com tudo para cima dos bandidos rivais. E de políticos também.
Principalmente os que defendiam a extradição para os Estados Unidos de
criminosos como ele. No começo dos anos 80, Pablo Escobar entrou para a
política.
Chegou a se eleger deputado. Construiu campos de futebol e casas
populares em bairros pobres. Dizia que era pecuarista. Mas foi obrigado a
renunciar depois que um jornal revelou que ele já tinha sido preso, anos antes,
com oito quilos de cocaína.
Desmascarado
como traficante, começava aí sua vida de eterno fugitivo e de inimigo mortal do
estado colombiano, como disse o então presidente, César Gaviria. Quando Gaviria
ainda era candidato, Escobar explodiu uma bomba em um avião, achando que o
político estaria a bordo. Mas não estava. Morreram 110 pessoas. “Nada de
positivo vinha depois de tanta violência”, afirma Juan Pablo.
Pablo Escobar
só se entregou depois de construir a própria cadeia. Cheia de luxos. Juan Pablo
visitava sempre o pai. A cadeia virou uma segunda casa da família,mas o
traficante também tinha outras companhias...
Agora o local
está em ruínas. Mas ainda dá para ver claramente o que era a base da cama
redonda, giratória, que o Pablo Escobar tinha dentro da cadeia – assista no
vídeo acima. Quando as autoridades descobriram o parque de diversões que a
cadeia tinha virado, decidiram transferir Escobar. Mas ele fugiu antes.
Em 19 de
fevereiro de 1993, a família também decidiu escapar. Só o pai, que ainda estava
escondido, ficaria na Colômbia.
“A gente ia
para os Estados Unidos. Mas a polícia nos segurou e não conseguimos embarcar.
Eu sabia que iam nos matar”, lembra Juan Pablo.
Juan Pablo, que
tinha então 16 anos, estava cercado no aeroporto por homens armados da polícia
e de quadrilhas inimigas. “Até que um milagre aconteceu. Um senhor que nunca
tinha visto me disse: ‘sei que você está no pior momento da sua vida. Em que
posso ajudar?’”, conta Juan Pablo.
O homem
conseguiu um telefone para Juan Pablo ligar para uma empresa de táxi aéreo.
Alugou um helicóptero, e escapou do aeroporto. “Foi uma jogada que salvou
nossas vidas”, diz Juan Pablo. Mas houve uma vida que Juan Pablo não conseguiu
salvar...
Dois de
dezembro de 1993. Um dia depois de completar 44 anos, Pablo Escobar foi morto,
em um telhado, com três tiros.
Minutos antes, tinha falado com o filho por
telefone, o que não costumava fazer. “Nesse dia, ele quebrou sua principal
regra de segurança. Ele dizia: ‘o telefone é a morte’. Ele escolheu morrer pela
família. Deu a vida por nós. Não foram os agentes que encontraram meu pai. Ele
que se deixou encontrar”, conta Juan Pablo.
O filho acha
também que o tiro fatal, na orelha direita, foi dado pelo próprio pai. “A bala
estava a cinco milímetros do lugar que o meu pai dizia que daria um tiro, se precisasse
se matar”, destaca Juan Pablo.
Juan Pablo
virou o homem da família. E teve que aprender a lidar com os inimigos do pai.
Alguns muito próximos. “Meu pai me contava que seu irmão mais velho, Roberto, o
traía”, diz Juan Pablo. Juan Pablo acusa a família paterna de delatar Escobar e
de roubar parte da fortuna. Em Medellín, o Fantástico foi até a casa de Roberto
Escobar em um bairro de classe alta.
A equipe tocou
a campainha, mas ninguém apareceu. Até que, de repente, Roberto sai pelo
portão, ao lado de um segurança. Nervoso, ele põe a equipe para fora, a ameaça de morte, e diz que cobra
US$ 5 mil para dar entrevista.
“A história não se entrega de graça. E vocês têm que respeitar. Já chamei a
polícia”, diz Roberto. E ainda faz uma ameaça: “Se sair algo na reportagem
deste lugar, eu processo”.
“Eles puderam
continuar vivendo na Colômbia porque entregaram meu pai. Eu, minha mãe e minha
irmã tivemos que fugir do país”, conta Juan Pablo.
Morando na
Argentina, Juan Pablo ficou 14 anos sem ir à Colômbia. Até que, em 2008,
voltou, por um motivo especial: pedir perdão aos filhos de duas vítimas do pai.
O então ministro da Justiça Rodrigo Lara Bonilla, morto em 1984. E o então
candidato à presidência Luiz Carlos Galán, assassinado em 1989. “Foi o pior
momento que vivi. Eu senti um soco no estômago. Senti toda a dor dessas
famílias ao mesmo tempo, num mesmo lugar”, confessa Juan.
Pablo Escobar
está enterrado em um cemitério imenso, de Montesaco, em Medellín. Mas para ele
foi reservado um cantinho, escondido, quase na rua. Agora isso não impede que o
túmulo receba muitas visitas.
“Ela é uma
lenda do nosso país, da nossa cidade. Ele ajudou muitas pessoas. Claro, ele fez
muito mal. Mas também fez coisas muito boas”, diz a vendedora Stefany Martinez.
“Pablo Escobar
teve muitas facetas. Por um lado, ele espalhava o terror. Por outro, era visto
como um benfeitor. Mas as suas ações sociais não eram amplas e relevantes.
Escobar foi uma figura muito negativa. Ele desencadeou uma espiral de violência
sem limites”, conta Ana Maria Jaramillo, socióloga.
Hoje, 21 anos
depois da morte de Pablo Escobar, Medellín é uma cidade muito diferente da que
Juan Pablo conheceu. Com 2 milhões de habitantes, moderna e uma queda radical
na criminalidade, quer deixar para trás os anos de terror. Juan Pablo também.
“Me enche de esperança saber que todos nós buscamos a paz. Porque ninguém é
feliz promovendo a violência”, diz.
Fantástico: Edição do dia 14/06/2015
DO G1.COM
Aviões particulares, motos de alta velocidade, carros esportivos, bichos exóticos e violência sem limites. Assim agia Pablo Escobar, o traficante que aterrorizou a Colômbia nos anos 80 e 90. Essa vida louca é contada em detalhes pelo filho dele, Juan Pablo, que hoje mora na Argentina e escreveu um livro sobre a intimidade do pai.
Juan Pablo: Eu acho que alguns segundos.
Juan Pablo: Não levaram as mulheres.
Juan Pablo: Sim. Eu e o editor do livro. Nós até falamos com os mortos.
Fantástico: Como assim, mortos?
Juan Pablo: Com alguns que constam como mortos, mas não estão. Existe um ou outro morto-vivo por aí. É que eu nasci nesse mundo do crime. Minhas babás eram os piores bandidos da Colômbia.
Chegou a se eleger deputado. Construiu campos de futebol e casas populares em bairros pobres. Dizia que era pecuarista. Mas foi obrigado a renunciar depois que um jornal revelou que ele já tinha sido preso, anos antes, com oito quilos de cocaína.
Minutos antes, tinha falado com o filho por telefone, o que não costumava fazer. “Nesse dia, ele quebrou sua principal regra de segurança. Ele dizia: ‘o telefone é a morte’. Ele escolheu morrer pela família. Deu a vida por nós. Não foram os agentes que encontraram meu pai. Ele que se deixou encontrar”, conta Juan Pablo.
“A história não se entrega de graça. E vocês têm que respeitar. Já chamei a polícia”, diz Roberto. E ainda faz uma ameaça: “Se sair algo na reportagem deste lugar, eu processo”.
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